Morre de Covid-19 o ex-prefeito de Ubatã, Gleide Santana



Faleceu ontem, no hospital de campanha da Fonte Nova, em Salvador, após quase dois meses de luta pela vida o ex-prefeito, empresário e produtor de cacau Gleide Santana, de Ubatã.Gleide, atual vereador, tinha perfil de homem público e costumava colocar posição nas questões que considerava importantes para a região. Assim foi quando fez pronunciamento sobre a situação da cacauicultura na Câmara Municipal de sua cidade e publicou texto na imprensa e redes sociais. Gleide deixa consternada a Familia e legião de Amigos e admiradores.

 A seguir, in memoriam, transcrevemos texto deste seu artigo, publicado em 2019.

 Acorda, gente do Cacau!!!

 Gleide Santana, cacauicultor.

 Nasci aqui na região, sou filho e neto de produtores de cacau, empresário, político, ex-prefeito e agora vereador, portanto, me acho apto, também como Cidadão, a meter minha “colher de pau” no assunto do momento.

 Analisando a situação atual da Cacauicultura, percebo que uma caixa preta poderá ser aberta a qualquer momento com decisões sobre o destino da Ceplac e, consequentemente, do Sul da Bahia e da Cacauicultura brasileira.

 Alguém “vendeu” ao governo federal ideias tais como acabar a extensão rural da Ceplac, transferir o Banco de Germoplasma da Instituição para a iniciativa privada (e aí nós produtores pagaríamos royalties pelos clones para eles?), transferir funcionários do órgão da lavoura para outra entidade, lotear os prédios da sede da Ceplac, transferir o que resta da Ceplac para a também combalida Embrapa, que a Ceplac é antro de petistas (o que não é verdade) e por aí vai...

 Meu Deus quanto absurdo! Olha, gente. Primeiro e pra começo de conversa, o Brasil deve muito, mas muito respeito mesmo, à nobreza do fruto de ouro do Cacau. O Cacau cumpriu aqui entre nós, pra falar só da Bahia, uma trajetória respeitável, aonde já chegou a gerar mais de um bilhão de dólares de receitas anuais para o país. Aqui, o cacau construiu verdadeira civilização. Com toda a sua força e magia, o Cacau, escreveu em terras baianas uma fantástica história cultural, econômica, política e social.

 Aqui, a saga do cacau inspirou uma obra cultural de porte universal com o nosso Jorge Amado, financiou o Estado, impulsionou a economia, gerou desenvolvimento, erigiu fortunas empresariais e pessoais, construiu cidades, sustentou gerações, gerou divisas e... abasteceu o mundo.

 O cacau caiu! Nos últimos 30 anos, das 400 mil toneladas que produzíamos fomos reduzidos para perto de 100. Mas também pudera! Com queda internacional dos preços, secas que mataram milhares de plantas em toda a região, retração do crédito ao produtor (como adubar o solo, como fazer as práticas agrícolas?), elevação absurda do preço dos insumos, com a retirada do orçamento e da autonomia da Ceplac, a extinção das escolas que formavam jovens técnicos agrícolas, que capacitavam proprietários, administradores e trabalhadores rurais, com a redução da força da assistência técnica e da extensão rural, a evasão de mais de 250 mil trabalhadores rurais capacitados para trabalhar no cacau foram inchar a periferia das cidades e por último com a chegada da vassoura de bruxa!!!. Quantos males convergentes nesse período e ainda querem que a região tenha a mesma produção? Por acaso é culpa da Ceplac? Mas o Cacau é antes de tudo um forte e resiste!

 Este é o quadro. Está satisfatório? Nem para o País, nem para a o Sul da Bahia, nem para o Produtor. E aí? Aí, acho que é indigno para a nobreza deste verdadeiro Fruto de Ouro que tanto já deu e pode dar a nosso País que nós não saibamos o que fazer com o Cacau para dele voltar a extrair o melhor que pode nos dar...

 Pelo jeito, parcela da sociedade acha que amesquinhar a única instituição capaz de gerar ciência e tecnologia para dar suporte à produção é a solução! E os seis Estados brasileiros que produzem cacau vão concordar com isso? Poderão desenvolver seus planos com o Cacau sem uma ciência e tecnologia fortes? Acaso foi produzida uma discussão franca e aberta sobre a questão da Cacauicultura brasileira? E o sul da Bahia – quase 4 milhões de brasileiros - que vivem da economia do cacau vai ficar muda?

 Tenho conversado com muitos técnicos, produtores rurais, políticos, empreendedores e todos são unânimes em perceber (por incrível que pareça) que uma grande oportunidade se descortina agora diante da Cacauicultura brasileira. Só falta a gente ter bom senso!

 O Cacau ainda é um dos melhores negócios do mundo. Tem mercado garantido, tem preço e tem o mais importante: um consumidor que, como eu, adora chocolate, ainda mais do chocolate feito com o cacau brasileiro, com teor elevado de cacau, que é produzido sob floresta atlântica, sem mão de obra infantil, com ações para melhoria da qualidade.

 Gente do céu, só não vê quem não quer. A ciência e tecnologia da Ceplac está executando junto com os produtores um projeto de Alta Produtividade, com resultados inacreditáveis, narrados espontaneamente pelos próprios produtores participantes, de 100, 200, 300 e até, pasme, 500 arrobas por mil plantas! Isso é verdadeiramente fantástico, porque é feito numa região onde a produtividade média caiu para 18 arrobas por hectare. E o produtor está fazendo isso no “peito e na raça”, sem acesso a crédito ou apoio oficial algum!

 Esta mesma Ceplac agora, brutalmente ameaçada, acaba de entregar os primeiros projetos de Manejo da Cabruca. Sabe o que significa isto? Que Cacauicultores que produzem cacau sob floresta poderão, respeitando a diversidade de fauna e flora, nascedouros etc., poderão, responsável e legalmente, manejar a mata para abrir espaço para a luminosidade do sol entrar e aumentar sua produtividade. São 200 mil hectares do chamado cacau Cabruca que poderão produzir muito mais.

 É uma grande notícia para aos produtores. Mas é também o resultado de um projeto que a Ceplac vem desenvolvendo há mais de 10 anos, ali em Barro Preto, junto com a Mars Cacau, prefeitura local, sindicatos, o Inema e a Secretaria do Meio Ambiente do Estado da Bahia, sob supervisão do Ministério Público. É talvez o único caso do mundo em que uma Instituição consiga que uma prática agrícola chegue ao status de Decreto, aprovado e colocado em prática!

 De resto, todo negócio precisa de proteção e segurança. Você precisa conhecer o que a Ceplac está fazendo no campo da prevenção contra a possível – Deus queira que não – chegada de mais uma doença, como foi a vassoura, a tal Monília. Que trabalho! É digno de nossa reverência aos técnicos envolvidos nesse trabalho, como forma de gratidão!

 Do que precisamos então? Juízo e bom senso, enquanto é tempo. Respeito ao Cacau. Discussão responsável, clara, aberta (nada de caixas pretas!) fortalecimento da ciência e tecnologia, crédito ao produtor que quer buscar a alta produtividade e uma política para o cacau brasileiro. O bilhão de dólares que já geramos está logo ali na frente!

 Temos certeza que a Ministra da Agricultura Teresa Cristina e o próprio Presidente Jair Bolsonaro ao conhecer com mais profundidade a história do Cacau, das regiões produtoras e da necessidade de apoio à ciência e tecnologia desenvolvida pela Ceplac, ainda mais sabendo que um plano para o Cacau gera imediatamente mais de 250 mil empregos diretos e triplicaria em apenas 5 anos as divisas em dólares que entram no País hoje, inspirarão medidas responsáveis e bem ajuizadas para a melhoria do desempenho da Cacauicultura brasileira. Essa é a nossa esperança; essa é a nossa certeza.

 Conte comigo nessa nobre luta!

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